19 de ago. de 2010


Olhar Subterrâneo:

As conseqüências da desigualdade no Brasil


Por Welinton R. Nascimento


O Brasil enfim aparece em destaque no cenário internacional, tal fenômeno não é decorrência do acaso. Até conseguirmos o status de país competitivo amargamos as conseqüências da nossa história conturbada e substancialmente injusta.

Desde a colonização do país testemunhamos à inconseqüência e o desrespeito das elites quanto ao interesse da diversidade. As dizimações ocorridas com os índios e a escravização da raça negra refletem o pouco interesse dos nossos conquistadores europeus em desenvolver aqui uma pátria cujo objetivo não fosse à exploração desmedida de um continente berçário do capitalismo representado notoriamente na época pelo mercantilismo.

Dessa maneira, o poder em nossa nação sempre esteve concentrado em mãos de mecenas que pelo estreitamento de visão ao qual estavam submetidos acumulava recursos de maneira inconseqüente. As capitanias hereditárias, regime de distribuição de terras desenvolvido aqui pela coroa portuguesa, ponta pé inicial no processo de desigualdade, criando a partir da costa brasileira divisões que se aprofundavam para a região central, sendo assim os portugueses prevaleciam sobre dois outros povos definidores da nossa Nação: os negros e os indígenas. Essa desarmonia originada em tal época reflete até hoje nas dificuldades encontradas por esses dois últimos povos integrantes da nossa nação, sendo na maioria das vezes necessário a criação de políticas públicas e Leis complementares para assegurar-lhe direitos humanos e constitucionais. Até as elites brasileiras entenderem que o Brasil era desigual demais para garantir-lhes o sonho americano, isso na história recente, o povo não tinha perspectivas positivas de curto prazo em decorrência da realidade social esmagadora onde a maioria das pessoas viviam submetidas às ações inescrupulosas e desumanas das elites.

Desde a criação da primeira vila do Brasil em 1532, por Martim Afonso de Souza em São Vicente cujo objetivo foi a implantação do cultivo de cana-de-açúcar e instalação de engenhos, utilizados para garantir a viabilidade da colonização no país, usando para isso a mão de obra escrava de índios e negros que até a abolição da escravatura em 1888, tinham a sua força de trabalho utilizada sem nenhum reconhecimento, em um processo no qual eram vendidos como força motriz. O projeto econômico das elites sempre fez uso da exploração da maioria desassistida, de modo que ainda hoje somos vítimas da escravidão da miséria. A população indígena, também integrante da população brasileira, deu o seu primeiro passo a caminho da liberdade e autonomia somente em 1979 com a criação da União das Nações Indígenas que foi fundamental para a consagração dos direitos dos índios na Constituição de 1988, até então não existiam mecanismos que legitimavam a existência digna dessa população. Essa falta de unidade da Nação brasileira originada em sua descoberta e colonização persiste ainda hoje em pleno século XXI. Onde as desigualdades regionais acentuam as dificuldades de um país continental. Mesmo assim, não se ignora as conquistas recentes principalmente as obtidas através do processo de redemocratização do país que de alguma forma rompeu o laço da aparente inércia social, temos vocação para ser Nação, por mais que alguns insistam no contrário, essa é uma força que sobrepõem a todas as barreiras, graças à nossa escolha de sermos uma nação democrática, uma nação democrática no século XXI, integrada à rede mundial de computadores onde o compartilhamento constante de culturas do mundo globalizado possibilitam o surgimento de novos conceitos de existência, caminhando na direção de uma comunidade humana, onde os interesses individuais de cada país não sobrepõem o interesse maior da raça humana. Tal paradigma de desenvolvimento nos assegura o progresso em um mundo mais socialmente correto.

O grande obstáculo do Brasil é acordar o gigante adormecido, é despertar as pessoas para uma realidade que já existe, à custa de sangue de muitos e lágrimas de outros tantos que sacrificaram as suas existência para assegurar a liberdade dos indivíduos e da coletividade, por conta da liberdade individual que as nossas conquistas democráticas asseguram é possível que aqueles cuja boa vontade é a sua principal motivação cheguem até os mecanismos de execução e de poder, isso é democracia em um país desigual. O grande prejuízo causado pela ignorância no Brasil, em decorrência da fragilização dos seus povos constituintes que hoje mesmo tendo os seus direitos de povo assegurados formalmente não conseguem reagir diante da pressão imposta pelas elites que insistem em comportar como se estivessem no século XVI. Acordar esse gigante é uma questão de sobrevivência para a nação, pois este sistema se tornou insustentável e inviável até mesmo para eles, os ricos, pois o crescimento econômico do país a partir de agora dependerá da nossa capacidade de ser uma nação democrática.

Nos moldes de um mundo capitalista é inegável que a melhor maneira de possibilitar a minimização da desigualdade social é distribuindo renda. Nos últimos tempos onde a democracia deu condições para o surgimento de um governo popular, sensível às causas estruturais do país, mesmo tendo um propósito capitalista de competitividade.

Para compreender tal realidade é fundamental abrirmos mãos das utopias que nos prende em um passado saudosista, ineficaz e romântico que ao fim, sempre prestigia a própria desigualdade e miséria. É necessário, sem dúvida conhecermos mais os direitos conquistados e se impor como Nação, de maneira a conquistarmos cada vez mais esse vasto campo que nos possibilita a democracia.

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